Mistérios


Nunca até aqui contei para alguém esta história, mas agora vou contar, não sei por quê. Cada um entenda como quiser, ficção, fantasia ou a mais pura verdade.

Eu tinha somente onzeou doze anos, era uma garota tímida, e naquele fim de tarde voltava do colégio para casa de ônibus. Lembro-me de ter pago e passado a roleta, e de pé aguardei a chegada ao ponto, frente à praça que ficava frente ao prédio em que eu morava.

E então algo havia mudado, o mundo de repente funcionava em uma outra dimensão. Parecia que todas as imagens eram parte de uma pintura bidimensional. Atravessei a rua admirando tudo aquilo que era novo para mim. Por dentro uma paz imensa, colossal.

Entrei no prédio, no apartamento, em meu quarto, e deitei na cama com a cabeça nos pés da mesma, olhando pela janela a noite que chegara, as cortinas, as paredes e o teto.

A imagem continuava chapada, cheia de novo brilho e cores, e por dentro aquela imensidão, então pensei que naquele momento o mundo inteiro poderia desabar e não faria a menor diferença.

Conclui que mesmo sendo tão inteiro aquele momento, sem caber em tempo algum, ele não tinha muita utilidade para a vida. Como viver a vida sem se importar se o mundo vai acabar seja lá como for?

Não, não tinha a menor utilidade, mas mesmo assim eu adorei, e quando dali à pouco ele cedeu lugar ao mundinho de sempre, eu fiquei esperando, agarrando-me à esperança de voltar àquele estado em que o tempo congelou e a realidade quase se dissolveu diante de meus olhos adolescentes.

Até hoje, passados tantos anos, eu não sei dizer o que foi aquilo que um dia vivi. Deve fazer parte do arquivo de mistérios que um dia irei abrir.

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