No dia em que Ele chegou


No dia em que Ele entrou em minha casa,
entrou sem avisar,
não fez alarde
ou barulho algum.

Talvez para dizer que estivera sempre ali,
naquelas paredes brancas,
no vento que entra pelas janelas,
e balança as cortinas de renda que minha avó me deixou na lembrança.

Então eu vi, pela primeira vez, embora sempre soubesse,
que Ele está em toda parte,
não só nas flores, nas borboletas esvoaçantes,
no cheiro da chuva, no canto dos pássaros.

Mas também nos abraços, nos beijos,
nos telefonemas dos amigos,
em cada olhar,
conhecido ou não que eu encontrava no caminho.

Estivera sempre ao meu lado,
muitas vezes disfarçado,
sutilmente refletindo seus raios,
mesmo naqueles dias mais frios.

Mesmo nos olhares mais furtivos, ou ameaçadores,
havia uma fagulha d'Ele,
a pedir minha compaixão, ou meu perdão,
ou o meu mais caro amor...

Estivera sempre perto demais,
enquanto eu o procurara no mais belo amor,
que nunca será o único ou perfeito,
por que imperfeita é a humanidade...

Que delícia saber, poder viver,
entre pedras, espinhos, frio e chuva!
Sob o sol, o esplendor da tarde, o carinho das águas,
a beleza de tantos olhares flamejantes!

Em cada um, em toda parte, agora enxergo
um bocadinho de Deus,
a pedir que meu coração se abra
em grande janela ensolarada!

Não sei em que dia que foi,
que Ele chegou de mansinho,
sei que foi por estes dias de maio,
tão doces e encantadores...
Sei que teve um dedinho,
numas linhas delicadas,
de um sábio,
amigo meu...

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