Velha

 
Deixe-me ser velha,
Tão velha quanto a mais velha,
Que a mãe, da mãe, da mãe...
Deixe que meus peitos desçam até o umbigo,
Que minha pele se enrugue e se dobre em mil pregas,
Que meus olhos sejam quase brancos,
E meu cabelo seja como um rio prateado descendo a montanha...
Deixe que eu me curve e encolha
Até ficar do tamanho de uma criança,
Que minhas mãos tremulem e meus passos sejam trôpegos,
E que meus ouvidos só ouçam a música do vôo de uma libélula...
Tão velha que a mais velha,
Tão velha que até a morte se esqueceu de levar...
E inocente serei para contar as piadas mais sujas,
Para ninar nos braços os netinhos que nascem,
Para saber magia e os feitiços que curam,
Para cantarolar as canções que mais ninguém se lembra,
Para varrer os quintais e falar com as aves,
Para correr livre pelos caminhos dos homens e dos anjos,
E então um dia, quando o sol nascer,
Num sopro serei a brisa que embala as asas
De uma linda borboleta azul...

Ana Liliam

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