Uma vida de luxo, por Danusa Leão

 


É impossível viver sem ele; só que existem luxos e luxos.

Para a milionária Barbara Hutton, a herdeira mais rica dos Estados Unidos,
um deles foi mandar fabricar um Rolls-Royce em tamanho pequeno
para dar de presente a seu filho, então com 9 anos.
E, para motorista do carro, contratou um anão.
Será que ter dinheiro demais pira a cabeça das pessoas, elas nunca ficam satisfeitas?
Detalhe: depois de nove casamentos, Barbara Hutton morreu pobre.

Para não ser radical, admito que algum dinheiro sempre ajuda, mas não é tão fundamental assim.
Então vou falar de algumas coisas que são, para mim, o luxo dos luxos e que não custam quase nada.
Acordar num domingo de manhã sabendo que a faxineira não vem,
que todos os eletrodomésticos da casa estão funcionando e que, com a graça de Deus,
o telefone não vai tocar.
O dia será silencioso, e o único movimento na casa será o dos gatinhos (agora tenho mais dois)
correndo e se enrolando uns nos outros sem emitir um só som.
Um domingo assim é um luxo total.
Outra preciosidade é, depois de passar 20 dias sem comer carboidrato, nem unzinho,
pegar no armário aquela calça de 15 anos atrás, quando você era uma sílfide, e o zíper fechar.
A felicidade é maior do que se ganhasse um brilhante.
E quando você chega da rua, com um calor de matar, pega um copo (bonito, de preferência)
e toma uma água bem gelada, não é um luxo?
Se puser dentro de uma jarra (bonita, de preferência) cascas de limão-siciliano
e deixar na geladeira, vai ser a água mais fresquinha e perfumada que já tomou.
Não é um superluxo?
Aí você se refresca num chuveiro e depois vai para o quarto, liga o ar-condicionado
e se deita numa cama com lençóis brancos limpinhos, cheirosos. Tem luxo maior?
Dar um mergulho num mar azul, sem ondas, sem se preocupar com os cabelos, e depois tomar uma água de coco?
E então comer um peixe grelhado, temperado apenas com sal, limão e um fio de azeite.
Depois de passar por várias paixões sofridas e alguns casamentos errados, não estar apaixonada é um luxo.
Uma sexta-feira, às 7 da noite, você está sozinha, sem a angústia de esperar aquele telefonema.
Sente-se independente e decide sair.
Enquanto pinta o olho, começa a pensar em que restaurante vai sem ninguém para dizer que prefere outro.
Quando chega lá, toma dois drinques sabendo que é uma mulher livre e resolvida,
que não precisa de ninguém para uma coisa tão banal, que é jantar fora. Não é um luxo?
Bom demais é ter resistido à compra daquele vestido lindo,
que fez você ficar duas noites sem dormir pensando “compro ou não compro?”,
e passar pela loja uma semana depois, ver que ele está em liquidação, pela metade do preço,
e que você nem o quer mais.
E quando chega de uma reunião de trabalho com a cabeça quente, se sentindo um lixo,
e a empregada fez aquela sobremesa que você adora, não é como se o Universo estivesse todo a seu favor?
E o resultado do exame avisando que sua saúde está ótima?
E seu filho que telefona para dizer que está com saudades?
Percebo que misturei muitos luxos com momentos de felicidade; e existe luxo maior do que ser feliz?

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