Flor tardia

Descobri que sou uma flor tardia
daquelas que levam anos para florescer.
Primeiro fui um broto que nem queria vingar,
Depois é bem verdade que espiguei logo cedo, bem fininha e tímida
e o mundo parecia uma grande ameaça prestes a me quebrar!
Depois fui ganhando corpo, e crescendo mais e mais para o alto,
mas de raízes ainda fracas que ameaçavam romper sob o solo raso em que fui plantada.
Um dia uma brisa fresca chegou
uma chuva de quase intermináveis lágrimas me abençoou
e foi então que vi a luz do sol,
e esta nunca mais me deixou.
Mesmo com o céu cheio de nuvens, eu sabia que ele estava lá.
Mesmo que viessem as tempestades, ele voltaria a brilhar.
Foi nesta certeza que minhas raízes cresceram cada vez mais fortes e profundas
e eu estendi meus galhos ainda mais altos no céu.
Tornei-me árvore frondosa
minha sombra acolhe gentes
e creio que já dei alguns poucos frutos...
Mas os melhores frutos,
não, estes ainda não chegaram!
Ainda estou a florescer.
Sou do tipo que vive muito
que deixa o melhor e o mais doce para depois!
Do tipo que tem grande paciência consigo mesma
que sabe que na pressa não se vai ao longe
que não marca o tempo e não tem relógio.
Ando cantoralando com os passarinhos
brinco com o vento
jogo bênçãos aos transeuntes
e assim espero o tempo que não me pertence...
Em minhas raízes eu sinto
que a seiva é cada vez mais forte.
Sei que parece estranho florescer na maturidade da vida,
mas não me importo!
Um dia as flores virão,
seu perfume se sentirá muito ao longe
um vento bom as levará adiante,
e então virão os frutos doces e abundantes!

Ana Liliam