O mundo acabou

Queria poder vestir os raios de sol da manhã,
e ter as nuvens do céu como anáguas,
todas as nuances que nunca vi do espectro solar
para matizar minhas novas vestes.
Usar o orvalho como perfume,
ter estrelas prateadas nos cabelos
e as pétalas das flores nos lábios,
mas não encontro nada assim em meu velho armário.
Quem sabe não usar nada
talvez me agrade mais neste momento,
mas soaria tão estranho!
Andar nua por aí
feito bicho inocente,
criança pura,
velho sem juízo.
É que de repente
não caibo em nada conhecido,
tudo parece tão velho e gasto,
tão carcomido de tempo passado
de tão antigo já sem futuro,
pior: sem presente algum.
Vou fingir que sou mendigo,
pedir uns trapos por aí,
sair rindo do nada,
cantando cancões sem rima,
pedindo abrigo aos passarinhos,
dormir enrolada com os cães da rua.
De repente, nada mais faz sentido,
e a loucura ficou normal,
e o normal deixou de ser,
e o tempo acabou,
tudo parou, enquanto eu
espio por aí...
Criança curiosa,
que acorda e coça os olhos remelentos,
espia pela janela da vida
um mundo renascido
banhado pela luz de um novo dia!

Ana Liliam