As pérolas do vovô

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Meu pai, o avô de meus filhos e sobrinhos, é dotado de um sutil bom humor, que sempre nos arrancou risadas nas horas das refeições a mesa. Suas piadinhas infames, historietas, provérbios e trocadilhos tornaram-se sua marca registrada, para alegria nossa, exceto de minha mãe, que tentava insistentemente barrar-lhe a veia humorística: Pare com isso José! Que besteira, lá vem você encher o saco de novo!

Mesmo agora, aos noventa e dois anos, em meio a uma longa internação hospitalar, seu humor inteligente se faz presente, tirando muitos risos de toda equipe do hospital e de todos nós, afinal, rir é o melhor remédio!

Papai sempre foi avesso a excessos, inclusive de banhos! Ainda mais friorento com a velhice, ele economizava ao máximo a água para este fim, e dizia: Afogado já morreu muita gente, mas de falta de banho nunca vi nenhum!

Sobre sua esposa, grande paixão de sua vida, e com certeza de muitas outras: Vivo todo arranhando, mas não largo minha gata!

Quanto aos doces que ele amava, pudim de leite, manjar, pavês e tortas, que minha mãe deliciosamente preparava: O creme não compensa!

Ele tinha provérbios mais sérios e muito sensatos como: A palavra é de prata, mas o silêncio é de ouro!
Assim, nunca perdia a oportunidade de ficar calado e evitar uma briga. Ou: Peço a Deus que me permita mudar o que é possível, e que me permita aceitar o que não posso mudar!

Para a neta de seis ou sete anos meu pai perguntou: Você conhece a piada do fotógrafo?
A menina: Não, qual é?
Ele: Também não sei, ainda não foi revelada!

Tem a piada dos comilões da corte: Os nobres foram convidados a um jantar com o rei, e esperavam um banquete, no entanto a comida era pouca. Ao final do jantar o rei perguntou "quando virão comer novamente a minha mesa?" E eles respondem "agora mesmo, vossa alteza!"
Entendeu? É o humor sutil do vovô...

A técnica de enfermagem, uma morena bonitona e simpática, veio dar a medicação na madrugada, e ele proibido de comer, não perdia a chance de tentar um lanchinho: Você é muito bonita! Não quer me trazer um copo de leite morno?
E eu: Já chegamos neste nível de barganha, pai?

O fisioterapeuta perguntou: O senhor acordou cansado hoje?
Ele respondeu: Acho que envelheci um ano esta noite!

A enfermeira da noite lhe perguntou: Quem é esta moça com você? 
E ele: É a Teresa.
Eu: Não pai, quem sou eu?
Ele: Não sei.
Eu insisto: Como não sabe? Quem sou eu?
Ele encerrando conversa: Ah, sei lá!

Estamos no hospital, eu pergunto: Pai, onde o senhor está?
Ele: Em casa, em Jacarepaguá.
Noutro dia: Pai, onde o senhor está?
Ele: Em Araruama.
Noutro dia: Pai, onde o senhor está?
Ele: No Lar de Frei Luiz.
Eu: Até que é uma boa ideia, deixa assim!

Pai: Liliam, eu estou no hospital?
Eu digo: Sim!
Ele: E ela, quem é?
E eu satisfeita por afinal ele saber onde está: É a técnica de enfermagem.
Ele: Ah! Vocês podem ir pegar limões, lá nos fundos, no limoeiro à direita da porta...
Eu decepcionada...

O técnico de enfermagem, um moreno forte e falante, veio trocar a fralda, na hora de passar a pomada para assaduras meu pai diz: Chega de massagem! Chega de massagem!
Mas com as moças ele nunca reclama, por que será?

os filhos e netos.

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