Longo poema do alvorecer

O mundo agora parece um sonho,
nem bom, nem ruim,
apenas um sonho do qual começo a despertar.
O mundo está parando,
o tempo desacelera,
e o silêncio começa a descer sobre todas as coisas.
As palavras ecoam no nada, nada, nada...
O tempo escoa com vagar, vagar, vagar...
A cidade pára, pára, pára...
A internet está lenta, lenta, lenta...
Não há mais pressa, essa, essa...
Todo o fazer perdeu significado.
Apenas o front está ativo, e sofre,
aflige-se com os enfermos,
debruça-se  sobre a morte.
Numa guerra travada de uniformes brancos,
verdes ou azuis,
de parafernálias médicas,
em leitos cheios,
numa corrida frenética por um fio de vida,
contra um inimigo invisível.
Enquanto o tempo, a vida, e tudo mais escoa,
eu também descelero.
Meus pensamentos começam a aquietar,
o silêncio vai tomando conta de mim,
e enquanto a realidade do mundo se desfaz,
eu desperto para uma outra realidade.
A respiração agora é lenta,
e o ar entra e sái dos pulmões como o som das ondas,
e me percebo mais perto do mar.
Um grande oceano nos aguarda,
e já não há mais pressa,
apenas fluo num tempo leve e impreciso,
em direção ao mar.
Há paz, um silêncio interior sempre desejado,
e a lentidão segue seu ritmo.
Talvez tudo páre,
numa janela que se abre
e sobre a qual eu me debruço agora,
do outro lado,
a eternidade.
Eu danço por dentro,
em movimentos lentos e fluídos,
tudo está bem agora.
A natureza timidamente sorri,
os pássaros cantam,
os animais retornam,
e a atmosfera respira mais limpa.
Tudo está bem agora.

Ana Liliam